O Milagre da Nazaré

Consta que em lugar certo, na Nazaré da Galiléia, e em dia que não se sabe exatamente qual, mas certamente dois mil anos terão já passado sobre esse momento, José, conhecido como “o carpinteiro” dava os últimos retoques na pequena estatueta. Tinha pouco mais de vinte e cinco centímetros e representava a sua mulher, Maria, sentada, amamentando o seu filho Jesus.

TALES

Written by Nelson Viegas

9/28/202413 min ler

Consta que em lugar certo, na Nazaré da Galiléia, e em dia que não se sabe exatamente qual, mas certamente dois mil anos terão já passado sobre esse momento, José, conhecido como “o carpinteiro” dava os últimos retoques na pequena estatueta. Tinha pouco mais de vinte e cinco centímetros e representava a sua mulher, Maria, sentada, amamentando o seu filho Jesus. Este mesmo Jesus estava agora sentado junto do seu pai olhando atentamente enquanto este aplicava a cera que ía realçar os veios da madeira dando-lhe vida e cor. Está pronta? - Perguntou Jesus! José entregou-lhe a pequena estatueta para as mãos e disse: Vai, leva-a à tua mãe. Jesus saiu da oficina em passo acelerado, subindo as escadas em direção ao piso térreo da casa onde a família vivia. Mãe, olha o que o Pai fez - disse Jesus com ar deliciado olhando a estatueta nas suas mãos. Maria pegou nela fitando com atenção os detalhes do seu rosto tentando perceber o quão parecida seria consigo mesma. Escolhe um lugar da casa para a pôr - disse Maria - enquanto lhe devolvia a estatueta. Jesus percorreu a pequena casa com os olhos e encontrou o lugar perfeito junto à lareira. Olhou para a Mãe em busca de aprovação e recebeu um sorriso e um meneio da cabeça que significava “perfeito”.

Os anos foram passando, José morreu e anos mais tarde também Jesus morreu, este envolvido em grande polémica, acusado de crimes que não cometeu. João, um dos seus amigos mais próximos, tomou a seu cargo Maria, levando-a consigo até Éfeso onde foram viver. Os tempos eram difíceis, os amigos e companheiros de Jesus eram perseguidos e acusados dos mesmos crimes, sedição contra o império romano, de forma que importava sair da palestina. Dos parcos bens que Maria tinha trazido com ela, a estatueta era o mais precioso, apenas porque depositava nela as memórias do seu amado marido e filho. Maria morreu e alguns anos depois também João faleceu, o último dos que conviveram com Jesus. A pequena estatueta, um dos poucos vestígios relacionados com Jesus e a sua família, retornou a Jerusalém pelas mãos de Lucas, o médico, um dos companheiros de Paulo, antes conhecido como Saulo e pertencente ao grupo dos que antes tinham perseguido os amigos e companheiros de Jesus. Consta que um dia teve uma visão, o próprio Jesus lhe apareceu perguntando-lhe “porque me persegues?” e desde essa data tornou-se um dos mais acérrimos defensores da inocência de Jesus apregoando-a em todo o lado.

Ao mesmo tempo que a fama de Jesus crescia, a pequena estatueta ia ganhando honras de veneração, pois, o seu passado ligava-a a personagens com histórias de mistérios, milagres e outros feitos. Os amigos de Jesus eram agora chamados de Cristãos, pois dele se dizia ser o Cristo, o ungido de Deus. Entre as várias cidades da Palestina e também da Ásia Menor circulavam cartas contando a vida de Jesus e falando sobre muitos dos seus ensinamentos. As pessoas reuniam-se nas casas umas das outras, na maior parte dos casos às escondidas, para lerem em voz alta as cartas que circulavam, e aqueles que estavam em Jerusalém tinham a possibilidade de ver a pequena escultura também. Os anos foram passando, o culto a Jesus foi crescendo, juntamente com o número dos seus seguidores. No entanto, o império romano continuava a perseguir este grupo, cada vez maior, de pessoas que afirmavam que apenas Deus, e não o imperador, devia ser adorado, obrigando-os a saírem de Israel e a buscarem segurança nas terras dos gentios. Foi num desses êxodos que a pequena estatueta foi parar a Mérida, na Estremadura Espanhola, ficando à guarda de um grupo de monges que ali viviam.

Passaram-se anos, e o cristianismo, antes perseguido, virou religião oficial do império romano. Os reinos visigodos, vindos do norte da Europa, entraram na península ibérica e, por fim, chegaram os mouros, estes vindos também do norte, mas de África. Rodrigo era o rei visigodo e enfrentou-os, aos Mouros, em Cádiz, na batalha de Guadalete em 711 mas saiu vencido. Julgaram-no morto e talvez esse juízo, quem sabe, tenha sido o início do "milagre''. Coberto de morte no campo de batalha, existia ainda em Rodrigo o fôlego da vida. Pensando em como seria impossível resistir a esta horda de invasores, que de indisciplinados e desorganizados não tinham nada, importava avisar a norte para que buscassem abrigo. Levantou-se, como Ezequiel em o vale dos ossos secos, e dirigiu-se a Mérida o mais rápido que pôde. Temendo pela morte, os monges pegaram em tudo o que podiam levar consigo e subiram ainda mais a norte em direção às Astúrias, contudo, Rodrigo e frei Romano, seu amigo de longa data, rumaram a ocidente em direção ao atlântico, procurando refúgio no convento de São Gião, no local conhecido como Pederneira. Na bagagem traziam algumas relíquias, mas nenhuma tão importante como a pequena estatueta de Maria a amamentar o seu Filho Jesus. Chegaram e ficaram a salvo no convento por alguns meses mas as notícias da invasão continuavam a chegar através de aqueles que, fugindo do sul, rumavam ao norte.

Frei Romano temia pela estatueta mais que pela própria vida, tinha ouvido relatos de destruição completa de igrejas para serem transformadas em mesquitas, por isso importava sair do convento e buscar abrigo onde não pudesse ser encontrado, até que o auxílio chegasse. D. Rodrigo partilhava a mesma opinião do seu amigo, mas entendeu que seria mais útil para ele ficar no convento e ajudar aqueles em fuga dando-lhes abrigo e, quem sabe, fazer parte desse auxílio que tanto desejavam que chegasse. Não podiam fugir todos… - Frei Romano apontou para o promontório com mais de 100 metros de altura que se erguia a norte e disse. - Vou procurar ali abrigo. Uma vez a cada mês, neste dia da minha partida, acendo uma fogueira para dizer que estou bem. Rodrigo respondeu. - Também eu, nesse mesmo dia acendo uma fogueira para que saibas que te sei bem. Despediram-se emocionados na dúvida de não saberem se se veriam novamente.

Os pertences de Frei Romano eram muito poucos, uma muda de roupa, uma manta, o farnel para pouco mais de dois dias, uma faca, alguns manuscritos, papel e lápis, mas, de tudo o mais importante, a pequena estatueta cuidadosamente embrulhada em panos. Depois de dias caminhando, pois importava contornar o rio Alcoa, apanhando fruta, raízes e plantas que podia comer e armazenando a água que chovia como benção do céu, chegou finalmente ao local onde se podia esconder. Não existia ponto mais alto e a vista sobre o oceano, a norte e a sul, era de cortar a respiração. O lugar era ermo, uma gruta no extremo sul da falésia, cuja entrada se fazia pelo solo como se de um buraco se tratasse, seria com certeza abrigo de animais mas agora tinha um novo dono. A gruta continuava, sinuosa, esculpida pelas águas da chuva, e parecia dirigir-se à base do promontório por passagens estreitas que apenas animais pequenos poderiam passar. Com o tempo foi ajeitando o seu interior para que lá pudesse habitar. Construiu um pequeno altar incrustado na rocha onde depositou a pequena estátua e sentiu-se orgulhoso, sentimento do qual se arrependeu de imediato, por poder tê-la só para si.

O primeiro mês passou e nessa noite acendeu a primeira fogueira. A resposta foi quase imediata, como se D. Rodrigo estivesse à espera do sinal. Frei Romano apagou de imediato a sua, não queria chamar a atenção para a sua posição, mas sentiu o coração aquecido, mais do que com o calor que a chama proporcionou, mas por saber que o seu amigo também estava bem. Nessa noite reviveu os momentos todos do seu passado mais recente e questionou-se como seria o seu futuro, como seria o futuro do seu povo, como seria o futuro da sua fé! A sua rotina era básica. Todos os dias dedicava pelo menos uma hora à oração, logo após o despertar, e depois saía para verificar as armadilhas que tinha colocado no bosque próximo. Felizmente havia abundância de animais, principalmente coelhos e lebres, mas também fruta e plantas silvestres, as quais a sua formação de monge o habilitava a reconhecer. De vez em quando apanhava uma raposa nas suas armadilhas mas soltava-as sempre. Dos coelhos e lebres aproveitava tudo. Depois de os esfolar limpava as peles e deixava-as a curtir ao sol. A carne comia-a mas os ossos, os mais longos e fortes, utilizava-os para fazer agulhas com que costurava as peles. Tinha lenha em abundância e facilidade em fazer fogo, pois sabia o quão rigoroso ali podia ser o inverno. Depois de comer sentava-se fora da gruta, ao sol, e a escrever as suas memórias, talvez o termo fosse um pouco presunçoso demais, pois a sua preocupação era apenas relatar os eventos da sua fuga e a necessidade de preservar a memória da estatueta.

Os meses foram passando sem que a rotina se alterasse até que o inverno chegou e com ele o frio. A caça escasseava e a fruta e raízes ficavam cada vez mais difíceis de obter. Fraco, desnutrido e fragilizado, Frei Romano ficou doente. Tinham passado 12 meses desde que saíram de Mérida e decorria o ano 712. D. Rodrigo estava na praia, a lenha disposta dentro de um buraco cavado na areia numa cama de palha seca para que fosse mais fácil acender. As horas passaram e o fogo no promontório não se acendeu. Nem nesse dia, nem nos dias seguintes até que Rodrigo tomou a decisão de subir ao monte. O seu amigo podia estar ferido ou em perigo.

Cedo pela manhã, aparelhou um burro com comida, umas mantas e algum vinho forte e pôs-se a caminho. Sabia bem onde procurar o lugar do fogo, onze vezes o viu aceso no mesmo lugar, por isso o seu abrigo não estaria muito longe, pensou para si. Começou a subida e quanto mais alto subia mais cerrado era o nevoeiro. Sabia que em determinada altura teria que virar a sul, como que fazendo o caminho de volta só que em direção ao topo do promontório. O nevoeiro impedia-o de caminhar depressa, mas não o impedia de saber qual a direção certa. Após algumas horas de viagem pensou que teria que estar já no topo do promontório ou muito perto dele, mas o nevoeiro impedia-o de ver. Enrolou o pulso uma volta mais à corda que prendia o burro, segurando-a firme na mão forte e calejada. Já não era rei, mas não era por isso menos homem. Sentiu que o vento mudava de direção vindo de noroeste, regra geral sinal de calor e bom tempo, e virou-se para encher o peito, qualquer calor, ainda que pouco, faria bem aos seus pulmões gelados. Inspirou novamente pensando que em breve o nevoeiro se dissiparia. Retomou a caminhada quando o seu pé direito pisou o vazio levando atrás de si o resto do corpo em desequilíbrio. A corda com que segurava o jumento retesou-se, esticada na sua mão, fazendo-o torcer-se à esquerda e batendo com as costas na falésia enquanto pairava sobre o abismo. O burro estacou as patas, aumentando a tração, e recuando para se afastar do precepicio, ao mesmo tempo que abanava a cabeça para se livrar da corda que o puxava. O burro era burro mas não era burro.

Refeito do susto, Rodrigo sabia que tinha de sair desta posição rapidamente. A corda roçava nas pedras da falésia e podia romper a qualquer momento. Com a mão livre segurou-se numa pequena saliência e fez força para se elevar. Este era o momento para cooperar com o burro que, sentindo o peso mais leve, deu um passo a trás elevando ligeiramente o homem. Repetiu este movimento mais duas vezes até que conseguiu segurar o topo da rocha e elevar-se sozinho. Ficou deitado de costas a arfar dando graças à virgem, sem esquecer o burro, por tão grande salvação. Ainda deitado gritou a plenos pulmões - Romano - sem contudo receber qualquer resposta. Romano - gritou de novo tentando fazê-lo ainda mais alto. Romano - disse, por fim, para si mesmo sem qualquer grito, em forma de desalento. O nevoeiro dissipou-se deixando entrar o sol do meio dia, que, apesar do dia frio de inverno, serviu para lhe aquecer a alma. Levantou-se e começou a procurar indícios de fogueira. Sabia que Romano teria tentado eliminar qualquer pista mas quem sabe o que procurar sempre encontra. Começou por identificar lugares escavados na rocha capazes de proteger uma fogueira do vento. Encontrou vários, mas Rodrigo precisava de um com indícios de pedra queimada. Na sua busca acabou por dar com a entrada da gruta, disfarçada com uma pedra grande, facilmente removível, bastando para isso rodá-la a poente.

Acendeu uma tocha e entrou. No interior encontrou o corpo de Romano, morto, deitado e enroscado sobre si mesmo, coberto com uma manta, a barba e o cabelo compridos, a cara lívida. O frio tinha-o conservado. Rodrigo sentou-se no chão da gruta ficando a olhar para o amigo e chorou. À sua direita viu a imagem incrustada na pedra e perguntou-se - teria valido a pena? Afinal era apenas um pedaço de madeira. Saiu da gruta com Romano ao colo, como Jesus quando foi retirado da cruz, e depositou-o deitado na garupa do burro. Cobriu-o completamente com a manta e voltou à gruta para a selar. Não iria levar nada consigo. Leu os textos escritos por Romano, os quais contavam a história que ele já sabia, acrescidos com a rotina da sua vida de eremita. Enrolou-os cuidadosamente em uma das peles de coelho e escondeu-os por detrás de uma pedra ao lado da estatueta selando a gruta de seguida. Seja o que Deus quiser - pensou.

Duzentos anos passaram sobre estes eventos. Ninguém mais se lembrava de D.Rodrigo nem de Frei Romano mas, um dia, pastores que por ali andavam encontraram a gruta por acidente. Uma ovelha tresmalhada caiu num buraco e o pastor, saindo ao seu auxílio, deu de caras com a entrada da gruta. Removeu a pedra para aceder à ovelha e qual não foi o seu espanto quando, dentro da mesma, encontrou a estátua da Senhora a amamentar o menino. Ninguém sabia a sua origem nem conhecia a sua história, mas a estátua passou a ser alvo de devoção popular e, principalmente os pescadores, tinham por hábito vir à gruta rezar à virgem antes de saírem para a faina. As lutas contra os Mouros continuavam neste território, agora chamado Portugal, e D.Afonso Henriques, seu primeiro rei, era o paladino desta causa. Em 1147 este Afonso toma a cidade de Santarém e como paga de promessa oferece aos monges de Cister, em 1153, todo o território desta estremadura, a ocidental, para que o arroteassem. Os monges constroem na intersecção dos rios Alcoa e Baça o mosteiro e a Igreja de Santa Maria de Alcobaça, o lugar prospera, as populações fixaram-se e desenvolvem-se, mas as incursões estrangeiras mantêm-se, vindas da costa atlântica pela foz do Alcoa, sejam elas dos Mouros, dos corsários ou dos Galegos.

Fernão Gonçalves Churrichão era um cavaleiro templário ao serviço do rei D. Afonso Henriques, nomeado primeiro almirante da, ainda incipiente, armada portuguesa e competia-lhe a guarda destes territórios. Tinha a sua base no Castelo de Leiria, estando o rei na cidade de Coimbra, capital do Reino de Portugal. Tendo conhecimento de uma incursão nestas terras levada a cabo pelo rei mouro Gamir, saí-lhe ao encontro com as suas tropas e fá-lo prisioneiro. Como prémio pelos seus serviços, o rei nomeia-o alcaide mor de Porto de Mós, onde o cavaleiro, também conhecido com Fuas Roupinho vem a estabelecer a sua residência. Um dia, saindo à caça no lugar da pederneira, D. Fuas avista uma enorme corsa a qual persegue a cavalo. Subindo o promontório ambos se embrenham no cerrado nevoeiro. D. Fuas perde de vista a corsa mas conhece a sua direção e espicaça o cavalo para que corra. Numa fração de segundo D. Fuas vê a corsa em pleno voo e levantando a sua lança prepara-se para atirar antes que esta toque novamente no chão e é precisamente nesse momento que se apercebe que não existe chão diante de si, apenas um enorme abismo e o cheiro a morte. Um grito solitário e angustiado sai da boca de D. Fuas - Valha-me nossa Senhora - e, como que por milagre, o cavalo finca-se nas patas traseiras empinado-se de seguida, impedindo a queda do ginete e o fim da montada.

Já no chão o homem ajoelha-se em oração quando vê à sua frente a gruta da imagem, de que já ouvira falar, mas que nunca visitara. Entra na gruta e agora de joelhos, mas de frente à imagem, tece a sua oração juntamente com a promessa de erguer uma ermida em sua honra. Um pedido especial é feito aos monges do convento de Alcobaça que fazem cumprir este desejo do cavaleiro. No decorrer das obras, no local da gruta, uma pedra é removida e um conjunto de escritos, envoltos em uma pele de coelho, é revelado. O monge fica atónito com a leitura que faz e pegando na pequena imagem e nos documentos encontrados dirige-se a Alcobaça em direção ao Mosteiro. De imediato, uma reunião secreta é convocada envolvendo os cavaleiros Afonso Henriques, Gualdim Pais, Mem Ramires, Afonso Viegas e D. Martinho III, abade de Alcobaça. O monge relata os fatos e lê o conteúdo dos escritos, descobrindo de seguida a imagem da virgem com o menino ao colo. Ao verem a imagem, os cavaleiros se ajoelham diante, depondo as suas espadas no chão. Uma decisão é rapidamente tomada: a relíquia deve ficar à guarda da ordem em lugar seguro e secreto, juntamente com todas as outras relíquias, e uma cópia deve ser feita para que seja colocada no local assim que a ermida esteja pronta.

Entretanto, o milagre de D. Fuas Roupinho rapidamente se espalha, e a devoção à imagem é cada vez maior. Em 1377 o Rei D. Fernando I, tendo em conta a tão grande devoção à imagem e o tão grande número de pessoas que lá se deslocava, mandou erguer uma Igreja, esta mais digna e maior, para onde a imagem, ou melhor, a sua cópia, foi levada ficando uma outra cópia na ermida. No século XV a Pederneira era já o principal local em Portugal da devoção a Maria, superando em muito todos os outros lugares de culto. Vasco da Gama antes de partir na sua viagem para a Índia vem à Pederneira buscar a proteção da virgem, assim como o padre Jesuíta Francisco de Xavier e muitas outras personalidades do clero e da nobreza de Portugal e do estrangeiro. Em 1595, um frade da Ordem dos que residem no mosteiro de Alcobaça e de nome Bernardo de Brito, o qual veio a ser cronista do reino, com muitas e afamadas obras, alega ter descoberto no mosteiro um texto com a história da imagem da Pederneira. Sedento da sua descoberta, como se o facto não tivesse sido conhecido antes, e ansioso por dar a novidade, o monge relata que a referida imagem, a da Pederneira, teria sido esculpida na cidade de Nazaré pelo próprio São José, pai de Jesus. O infame boato e falsidade rapidamente se espalha, aumentando ainda mais a devoção à imagem. A estatueta passa a ser conhecida como Nossa Sra da Nazaré e o lugar da mesma como Sítio da Nazaré. Cópias da estatueta são feitas e os frades da companhia de Jesus, os Jesuítas, se encarregam de levar a todo o mundo este culto da Nazaré.

Por outro lado, e em outro local, este bem mais secreto, o cálice da última ceia de Jesus e a espada que Pedro usou para cortar a orelha do soldado, juntamente com a mortalha, chamado sudário, não a que está no vaticano, mas a verdadeira que envolveu Jesus no túmulo, a lança que o trespassou, assim como os pregos da cruz, juntamente com muitas outras relíquias e agora também a estatueta, feita por São José, continuam guardados pelos cavaleiros da ordem do templo.